Anderson Rosa: O adeus a um grande lutador

“Você já imaginou aonde gostaria de estar daqui a um ano?” ou “em um ano tudo pode mudar”, você já se fez essa pergunta ou refletiu sobre a afirmação? Anderson Ranzan Rosa passou a vida inteira se dedicando ao trabalho, à família e ao esporte. Mas, teve menos de um ano para superar o maior desafio: um câncer na cabeça.

No domingo, dia 26, aos 33 anos, encerrou a sua passagem na terra, deixando muitos ensinamentos, talvez o maior deles: sempre lutar. A doença foi descoberta no dia 08 de abril de 2022, após muitos episódios de dores fortes de cabeça. A primeira cirurgia foi realizada três dias depois, em Bento Gonçalves. Fez quimioterapia e radioterapia e tudo o que pudesse para superar a doença. A mãe, Estela, o pai Rubem Rosa e os demais familiares sempre acompanharam Anderson.

De acordo com a família, o jovem nunca desanimou, manteve o pensamento positivo e tinha esperança de voltar a trabalhar e treinar. “Às vezes ele ficava chateado com a gente, porque perguntávamos como ele estava se ele se sentia bem, mesmo com dor de cabeça ele dizia que estava tudo certo”, destaca a irmã Maiara.

Foram 11 meses sem perder a alegria, força de vontade e a esperança de se recuperar. “Um jovem muito caprichoso, centrado, que incentivava muito a gente a se cuidar, fazer exercício, cuidar da alimentação. Ele era uma pessoa espetacular”, finaliza a irmã. Conforme os médicos, a doença não tem ligação com o esporte que ele praticava (lutas marciais).

A família faz um agradecimento especial ao Hospital São Pelegrino Lazziozi, Hospital Tacchini e Oncologia, Aapecan de Bento Gonçalves, a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Veranópolis, a Ipacol Máquinas Agrícolas e a todos aqueles que se sensibilizaram e abraçaram a causa.

 

O legado de um ser único

Julho de 2022 – Após última sessão de radioterapia.

O Anderson iniciou seus treinos com a equipe H.aço de Nova Prata, no final de 2012. Com a equipe ele competiu em diversas modalidades como JiuJitsu, Kikboxing, Muia thay e MMA, sempre se destacando. Ele sempre foi um atleta muito empenhado e disciplinado, sempre procurando evoluir técnica e fisicamente. Ele ajudou a fundar a equipe em todas as áreas, nos ajudou a realizar o sonho do projeto que temos hoje, foi ele quem criou o logo da equipe e desenhou as camisas usadas até hoje. Ele nunca foi um aluno, ele estava na linha de frente da academia, sempre aconselhava todos e fazia frente a tudo. Vai ser difícil superar a perda dele, pois ele está em todos os cantos da nossa academia. Seus materiais serão guardados, assim como seus certificados, troféus e medalhas. Ele está em tudo conosco. Ele é o verdadeiro motivo das nossas conquistas.

Amigos Josí Luis Viera e Thiago Veledo, do Centro de treinamento H. Aço – Projeto Jiu Jitsu NP.

 

O Anderson sempre foi o mais sonhador dos irmãos, foi o primeiro a sonhar em sair do país, cuidava de uma horta da nossa mãe, e de alguns animais. Sempre trabalhou muito, desde a adolescência; ele sempre foi o mais empolgado e dedicado, ele construía até pontes com galhos.

Dedicação tamanha que foi à trabalho morar na Bahia por alguns meses, onde se casou e, logo depois, teve o primeiro filho. Ele nos deixou duas crianças maravilhosas, a Ana Beatriz e o Gustavo, o último, diga-se de passagem, lembra demais, fisicamente, o Anderson quando era jovem. Há alguns anos, começou a se dedicar às artes marciais, e como tudo na vida dele, se dedicou ao máximo, conquistando prêmios e conhecendo amigos que o acompanhariam até seus últimos momentos. Anderson sempre foi uma inspiração para nós e deixará muita saudade, mas, acima de tudo, a imagem de alguém que nunca se entregou às adversidades e que dava tudo de si pelo que acredita.

Irmão Emerson

“O Anderson sempre foi muito trabalhador e se dedicava muito pelos outros. Gostava muito de jogos eletrônicos e passava horas jogando e assistindo lives de LOL. Nunca gostou muito de futebol, mas encontrou nas artes marciais a sua paixão. A vida dele por alguns anos foi trabalho e treinos. Ele treinava e se tornou um grande amigo do professor dele, o Gordo. O José treina muitos meninos do bairro São João Bosco em sistema de bolsa social. Anderson falava com muito orgulho dos ”meninos do Gordo”.

Um dos melhores amigos do Anderson sempre foi o Chau, que pratica musculação a muitos anos. Numa das vezes que visitei Veranópolis, ouvi eles sonhando em montar uma academia e um projeto social para ensinar luta para crianças na praça do bairro Valverde. Há pouco tempo, ele havia entrado no curso de Educação Física para se capacitar para esse sonho. Ele sempre será lembrado por mim por trabalhar muito, pelos jogos de computador que jogávamos juntos, pelas artes marciais e pelo coração enorme”.

Irmão Jeferson Rosa

 

Com os filhos

A trajetória do Anderson em seus 33 anos de vida foi notória.

Gostaria de ressaltar os 11 meses e 18 dias em que juntos, lutamos com ele. A maior luta já enfrentada, aonde não acontecia mais nos ringues aonde ele costumava competir.

A luta pela vida!

Gosto muito de falar que diante de um cenário desafiador, ou vivemos refém da dor, ou extraímos tudo aquilo que Deus quer nos ensinar. Precisamos ser sensíveis! Vivemos momentos preciosos, em meio às circunstâncias. Conseguimos expressar o nosso amor em palavras e através de atitudes. São cenários como esse que vivemos com o Anderson, que o nosso orgulho e dificuldade em expressar qualquer sentimento acaba. Aonde não é sobre o que temos, mas sobre quem nós verdadeiramente somos!

Jeferson, nosso irmão mais velho citou em um áudio reproduzido no momento de despedida uma frase muito importante: ”Os seres humanos são estranhos. Eles brigam com os vivos, e dão flores para os mortos.” Isso resume a realidade de um mundo insensível, cheio de orgulho e egoísmo. Anderson partiu, mas deixou um legado incrível que tem sido conforto nesse momento de dor.

E o sentimento é de gratidão, pela sua vida e o tempo que vivemos juntos. E agora, temos duas joias preciosas, Gustavo e Ana Beatriz pra cuidar e amar ainda mais. Com certeza suas vidas serão marcadas, pelo legado e caracter inigualável do seu pai.

Com amor, Maiara Rosa.

 

O Anderson era um exemplo de ser humano, educado, respeitoso, meigo, doce, na dele. Na época de escola, gostávamos de construir, cuidar da horta, pescar, catar pinhão no mato. Quando adolescentes, no Irmão Jerônimo, e posteriormente no São Luiz, nossa maior meta era fazer amizades e respeitar nossos superiores; se esse cara sabia de uma coisa, era gostar de dar risada e aprender e gostava que todos que passavam pela sua vida soubessem disso. Um dos apelidos dele surgiu por volta dessa época e ficou eternizado: Seco (todos que conheceram lembram da magreza do guri). Já no ensino médio, no São Luiz, cada um teve sua porção de vida vivida, ele atrás dos seus objetivos e eu dos meus, até que eventualmente nos reencontramos e aquela magia que acontece com aqueles que são e sempre serão de fé aconteceu.

Ele me contou como estava nas lutas, eu com meus esportes de força física, traçamos ideais, compartilhamos histórias, nos apoiamos… Graças a Deus tivemos esse tempo junto, e graças a Deus tive o privilégio de ter ele perto como irmão e amigo… Graças a Deus. Com muita saudade escrevo esse pequeno relato, mas também com muita verdade e amor no coração. O cara de uma risada inigualável, lindo na sua alegria, exemplo de determinação e coragem até o último minuto: esse legado ficará para consolar os corações dos que o conheceram. Eterno Seco.

Amigo de infância, Chauan Migliavaca.

Com os amigos Chau e Dudi
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