Os intensos volumes de chuva registrados entre abril e maio deste ano na Serra Gaúcha resultaram na destruição de 300 hectares de vinhedos, com um prejuízo estimado em quase R$ 50 milhões. Este foi o destaque de um estudo, ainda em andamento, conduzido por um grupo multidisciplinar, liderado pela Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves. Além disso, a pesquisa apontou riscos de novos deslizamentos em caso de novas chuvas intensas.
A pesquisa, que contou com a participação de instituições como Emater-RS/Ascar, Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Bento Gonçalves e Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Estado do Rio Grande do Sul (Seapi-RS), apurou que 90% dos deslizamentos ocorreram em áreas com declividade superior a 30%, uma característica comum da região. O solo rico em pedras e o uso intensivo do terreno potencializaram os danos causados pelas chuvas.
De acordo com o chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves (RS), Henrique Pessoa dos Santos, o estudo servirá também como alerta.
“O potencial de dano ainda é grande. É preciso planejar para preservar vidas e garantir a sustentabilidade das pequenas propriedades da região”, disse.
Com 33,5 mil hectares de vinhedos na Serra Gaúcha, o estudo aponta que 9 mil hectares possuem declividade semelhante às áreas já atingidas. Isso significa que cerca de 27% da superfície vitícola da região está vulnerável a eventos similares.
Conforme o estudo, até o momento o custo de recuperação é calculado em R$ 163 mil por hectare, incluindo insumos como postes, arames de sustentação, mudas, adubos e preparação do solo, além de três anos de manutenção até a retomada da produção. Como a maioria das propriedades vitivinícolas da Serra Gaúcha é pequena, com média de 13 hectares, as perdas podem comprometer a sustentabilidade financeira dos agricultores familiares.
Propostas para mitigação e prevenção
Além de mensurar os prejuízos, o grupo elaborou uma série de medidas para prevenir novos desastres e fomentar a sustentabilidade da viticultura regional. A princípio, as ações sugeridas são:
– Criação de um plano diretor rural para ordenar o uso do solo;
– Orientação para implantação de reservatórios de água e conservação de matas ciliares;
– Monitoramento da área e instalação de sistemas de alerta de deslizamentos;
– Fomento à diversificação produtiva, com uso de cultivares mais resistentes e certificação ambiental;
– Ampliação da assistência técnica e desburocratização do crédito rural.