Em 2014, Bernardo Boldrini foi encontrado enterrado em uma cova rasa, envolto em um saco plástico, em Frederico Westphalen.
Após quase cinco anos da sua morte, o caso está se encaminhando para um desfecho. O julgamento, que indicará se os quatro réus são inocentes ou culpados, começou na manhã da segunda-feira, dia 11, em Três Passos, no Noroeste Estado. Entre os acusados estão o pai e a madrasta do menino, Leandro Boldrini e Graciele Ugulini. Respondem também pelo crime os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz.
Antes da aberração cometida ter vindo à tona, de terem sido tornados públicos os requintes de crueldade com que tiraram a vida do Bernardo, dos motivos torpes, seguramente pareciam pessoas de bem. Não é? Até porque todos eram ligados a áreas onde se esperaria encontrar gente com muita humanidade: médico, enfermeira, assistente social! E ao invés de salvar vidas como era de se esperar, os três se uniram para destruir a vida de uma criança de 11 anos de idade!
Urge fazermos uma reflexão sobre a maneira como vem sendo conduzido, entre nós, o atendimento a crianças que denunciam maus tratos e manifestam desejo de não voltar para a casa. A Rede de Proteção realmente cumpre e atua da melhor forma? Todos enxergavam os sinais de abandono e desamor: Bernardo perambulava pelas ruas, pedia para dormir na casa de colegas, não tinha as chaves de casa, não podia brincar com a irmã, e era proibido de conversar com a madrasta.
Concordamos que o ideal é a reconstituição dos laços familiares. Mas, será que é o ideal sempre? Será que em nome do desfecho “ideal” não está se colocando a vida de crianças em risco? Não faz muito tempo, só pra lembrar mais exemplos, tivemos outros casos no país, como dos irmãos em Ribeirão Pires, assassinados pelo pai e pela madrasta com quem pediram muitas vezes para não mais conviver. E quem não lembra da Isabela Nardoni?
As crianças são simplesmente devolvidas à família, e pelo visto não se faz nenhum monitoramento. Permanecem esquecidas, invisíveis, até que terminem assim, como o Bernardo, como tantos outros.
Quando se trata de um ser humano tão inocente, é preciso uma rede de observação dos seus comportamentos. O modo de agir de uma criança, certamente concordarão os profissionais da área, vão indicar claramente o seu modo de vida. E é aí que devem atuar os órgãos públicos responsáveis, seja de proteção à criança e ao adolescente, o Ministério Público ou até mesmo os órgãos de segurança.
É preciso revelar urgentemente onde estão os outros “Bernardos” invisíveis, sob pena de não conseguirmos salvar suas vidas. Que a consciência de todos nós não nos deixe esquecer desta nossa mínima responsabilidade.