Preços continuam em destaque meses após as enchentes no Rio Grande do Sul

Os impactos das enchentes de maio ainda prejudicam o consumidor final

As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 causaram sérios prejuízos à economia estadual, afetando especialmente o setor de alimentos. A produção agrícola e a logística de distribuição sofreram com o aumento nos custos e a diminuição nas vendas, o que vem impactando diretamente os preços ao consumidor.

A Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul (Sefaz) tem monitorado a situação de perto, publicando relatórios mensais que detalham as variações nos preços dos alimentos e analisam o comportamento dos consumidores diante dessa crise. Em agosto, por exemplo, a cesta básica no estado custava, em média, R$ 254,32, um aumento em relação a abril, período pré-enchente, quando estava em R$ 247,69. Em setembro, o valor se manteve alto, chegando a R$ 257,31.

Produção impactada e queda nas vendas

Segundo o Boletim Econômico-Tributário da Receita Estadual, as vendas no setor agroindustrial caíram em média 9,9% em maio, comparado ao mesmo período do ano anterior. O setor de alimentos apresentou retração de 5,3%, e os insumos agropecuários foram os mais afetados, com uma queda de 39,1%. No Vale do Taquari e no Vale dos Sinos, regiões fortemente impactadas pelas enchentes, as reduções de vendas chegaram a 31,6% e 26,1%, respectivamente.

Cedenir Postal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, comenta sobre os desafios enfrentados pelos produtores locais: “Os agricultores pagam mais caro pelos insumos, mas não conseguem repassar esse aumento na hora de vender. Muitos acabam assumindo prejuízos”, relata Postal, apontando as dificuldades de equilibrar custos e preços de venda.

Impactos nos preços dos alimentos

Entre maio e setembro, alguns alimentos tiveram variações significativas nos preços. Em agosto, o valor médio das hortaliças caiu 35% em comparação a maio, chegando a R$ 5,98. O preço das frutas, por outro lado, aumentou 4% em relação a julho. Produtos como batata e tomate também sofreram oscilações: o preço da batata reduziu em 30% desde maio, e o tomate registrou queda de 50% em agosto, quando atingiu R$ 4,99.

Postal destaca que, apesar de algumas quedas recentes, as hortaliças foram especialmente impactadas após as enchentes. “O preço das hortaliças foi o mais prejudicado no curto prazo pós-enchentes”, observa, ressaltando a volatilidade dos preços do setor.

Embora alguns preços tenham caído, o custo da cesta básica segue elevado, pressionado pelo aumento do preço de produtos como leite e ovos, mesmo com pequenas reduções registradas nos últimos meses. Em setembro, o leite custava R$ 4,69, enquanto os ovos de galinha tiveram uma queda de 11% em agosto. “É difícil tanto para quem compra quanto para quem vende”, afirma Postal. “Enquanto o consumidor sente o peso da alta nos produtos essenciais, o agricultor lida com margens cada vez mais apertadas”.

Medidas para enfrentar os desafios

Para aliviar o impacto do aumento nos custos, o apoio aos agricultores está focado em fortalecer a infraestrutura de transporte. Cedenir Postal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, explica que a organização tem solicitado ao município mais “horas máquinas” — tempo de trabalho das máquinas pesadas — para melhorar estradas e acessos nas propriedades rurais, uma medida que facilitaria a logística e ajudaria a reduzir os custos de produção.

As enchentes deixaram muitas estradas rurais em condições precárias, dificultando o escoamento dos produtos. “Muitos agricultores não conseguiam nem escoar a produção. Precisaram recorrer a rotas alternativas, que são mais longas e caras”, explica Postal, destacando os desafios logísticos após as enchentes.

Apesar das dificuldades, há sinais de recuperação. Postal demonstra otimismo sobre a retomada das plantações na região: “Depois dos episódios de abril e maio, o clima melhorou. Algumas geadas prejudicaram pêssegos de maturação precoce, mas a qualidade das frutas, como a uva, está boa. As hortaliças também estão se recuperando, e tudo deve voltar ao normal aos poucos”, comenta.

Postal reforça ainda a importância das condições climáticas em outras regiões do país, pois boa parte das hortaliças consumidas localmente é trazida de fora.

Créditos: Semanário

 

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