Não! Nós não baixamos os olhos…
Então, acabou a mamata!
O país da corrupção virou o país da aceitação.
Tudo pode. E até o que nunca imaginamos que um dia poderia acontecer. Hoje, pode!
O importante é não parar. Não para a economia, não para a tirania, não para o trabalhador, nem a fome, nem a pandemia. E, principalmente, a ignorância de cada dia. E ainda que tudo esteja desmoronando (Porque, sim, está! Mesmo você não querendo enxergar!) a palavra é ‘continuamos’.
Nem que não se saiba para onde ou para quê. Mas continuar é o seu dever. Foi para isso que você, cidadão bem ensinado, levantou seu dedo e gritou, esbravejando enfurecido, Fora Comunistas! E carimbou com seu ódio racista, preconceituoso, misógino e excludente a chegada do seu ‘Salvador’.
O Messias, que fez questão de dizer que tem nome de Santo, mas não faz milagre. O que são 11mil, 15mil, 20, 40, 50, 100…01 MILHÃO e quantos mais preciso for! Um dia todo mundo vai tem que morrer, não é mesmo?? Deve pensar você, no seu sono tranquilo de cumpridor dos seus deveres. Só não me venha com reducionismos, arrependimentos ou ‘panos quentes’. Todos sabíamos, desde o João a Maria, do Paulo a Sofia… Todos sabíamos!
O Brasil não elegeu um louco porque não tinha opção, estava cansado, desolado… Escolheu a representação dos seus próprios instintos, (des)valores, (des)crenças, ideias e atitudes. Escolheu a sua representação para o mais alto posto de um país. Assim, poderia se ver e se auto realizar em todos os seus desejos e anseios, ditos por esse bando de desocupados e comunistas, serem politicamente incorretos. Agora, sim, teriam possibilidade de falar, fazer e externalizar tudo aquilo que foi reprimido, por anos e anos. Era chegada a sua vez!
O desejo de todo o oprimido é um dia ser opressor! Como cita o sociólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), “o dominador precisa contar com a cumplicidade do dominado”. E foi com essa cumplicidade, de mão dupla, que se alimentou um Monstro (e não só em sentido figurativo da palavra), que se instaurou o caos em nosso país e para o qual ainda se insiste em fazer ‘vistas grossas’, desconversar, defender ou calar-se.
Não existem mais meios termos. Chega de meios termos. De que lado, mesmo, da História você está?? Não se combate o fascismo com silêncio! E o que vivemos, hoje, é um Estado descaradamente fascista, opressor, irresponsável, genocida e corrupto. Sim, corrupto, caro defensor de um “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. E não pense você, que nos sentimos realizados ou ‘vingados’ (porque nós avisamos) com tudo isso que está acontecendo. Ao contrário, é difícil até de digerir. Impossível de conceber racionalmente qualquer lógica, mínima que seja, para entender o que leva um governo e um chefe de estado a agirem dessa forma. Mas pior e, mais lamentável, é ver parte de um mesmo povo ser guiado e ludibriado, negando enxergar qualquer narrativa contrária ao que está estabelecido no seu manual prático de obediência patética e irresponsável com a História, conhecimento e empatia humana. E aos que enxergam e preferem baixar os olhos… Meu lamento profundo.
É por esses que muitos se expõem, arriscam, gritam, estudam, se informam.
Não se muda o curso da História baixando os olhos.
E antes que você termine essas linhas achando que foi forte demais. Foi. E será, enquanto pessoas continuarem morrendo, sendo desvalorizadas e desrespeitadas por aqueles que deveriam zelar pelo bem estar comum e social. Será, porque só sendo muito forte e resiliente para continuar vivendo, dia após dia, neste País. Será, porque apesar de tudo, ainda temos esperança e ‘não lavamos nossas mãos em uma bacia de sangue!*
*(parafraseando trecho da peça “Os Fuzis da Senhora Carrar”, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht).