De que vírus estamos falando?!

Acordei com passarinhos cantando na minha janela.

Eles cantaram outras vezes?! Talvez. Não sei. Na correria de não perder o ônibus para o trabalho eu não tive tempo de escutá-los.

Ou, talvez, eles não cantaram mesmo. Abafados por outros sons muito mais potentes preferiram se esconder ou cantar baixinho só para ouvidos atentos.

O fato é que eu pude ouvi-los. Somente agora. Que ironia do destino. Ouvir passarinhos quando se está presa.

Foi preciso um elemento tão pequeno e invisível, como um vírus, para que passássemos a olhar o mundo ao nosso redor com outros olhos: sentirmos a falta de um abraço, avaliar a importância do nosso trabalho, experimentar o aroma das flores e a leveza do ar puro, observar as estrelas e as nuvens no céu azul (quantas vezes você observou as estrelas?!), saborear uma comida caseira, olhar para nossa casa, cada detalhe, para nós mesmos e nos percebermos o quão frágeis somos. Ou então, para desacomodar, incomodar, aqueles que resistem e insistem em não entender o que está acontecendo. Para constatar que não importa quanto dinheiro você tenha, quanto um país seja desenvolvido e de Primeiro Mundo, você não conseguirá se livrar do perigo eminente e de todas as consequências de um Covid-19. Mas que a diferença entre se ter dinheiro ou não será, sim, determinante para a maneira que você passará por tudo isso. Ou seja, as desigualdades sociais de um país saltarão aos olhos de todos, mesmo daqueles que não queiram enxergar.  

E ainda que se queira pensar que tudo não passa de alarde, histeria ou uma “gripezinha”, ele (o Covid-19) não tem mostrado sinais de escuta. Ele continua. Continua indo. Independente das suas crenças, ideologias, partidarismos, capitalismo ou comunismo… Ele continua. E não parece irônico que a única maneira de detê-lo esteja justamente dentro de nós. Nessa volta para nosso “Eu”, para nossa casa. Colocando à prova nossas certezas, debochando de nossas vaidades e deixando claro, de uma vez por todas, que não somos seres individuais, isolados, somos coletivo e estamos interligados, dependendo uns dos outros, em uma grande rede de conexão de todas as espécies. Nossas particularidades, anseios, realizações, aspirações tudo se reduz a nada diante do perigo eminente à vida.

Ainda que com demora, com dor e choro, somos obrigados a entender que empatia não é palavra só de minoria, mas que nunca fez tanto sentido quanto agora.

E os passarinhos…

Bom, os passarinhos continuarão a cantar e quando outro vírus, aquele que costuma invadir e atropelar tudo o que vê pela frente, entrar em ação de novo, eles voltarão para seus esconderijos e junto com outros de seus pares irão se proteger, ficar em “casa”, enquanto o vírus avassalador, na sua superioridade egocêntrica, continuará acreditando ser invencível, devastando e indo… Indo…

Que possamos aprender com as analogias e quem sabe compreender que as revoluções são para evoluções.

 

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