Estrutura Social – A Saga
Antes de qualquer rótulo profissional, sou uma pessoa com sentimentos, ideologia e princípios. Os quais adquiriram mais poder quando combati minha ignorância. Pois bem, há alguns dias aconteceu um fato que chocou os brasileiros, ou a grande maioria deles. Um menino, filho da empregada, de apenas cinco anos, caiu do nono andar, enquanto a sua mãe trabalhava. Diante das normas da OMS, que pede o afastamento das pessoas e escolas fechadas, para tentar controlar a pandemia. Neste cenário, temos uma empregada doméstica, que para não ficar sem seu sustento, acatou a ordem da patroa e não deixou de ir trabalhar, porém seu filho não tinha onde ficar. A patroa, gentilmente, aceitou o filho junto com sua mãe. Enquanto ela trabalhava, recebeu a ordem de ir passear com os cachorros e a patroa ficou ‘cuidando’ do filho. Em tese, era isso que ela teria que fazer, no entanto, “deixou” o garoto subir sozinho até o nono andar, onde ele acabou caindo e falecendo. Foi paga uma fiança de R$ 20 mil e ela responde em liberdade sob a acusação de homicídio doloso (ele ocorre quando uma pessoa tira a vida de outra intencionalmente).
Você já leu algo sobre racismo estrutural?
Para falar sobre racismo, precisamos distinguir alguns conceitos que se atrelam a ele:
Preconceito: é o ato de julgamento sem conhecimento, sem compreender a situação, pessoa ou acontecido. Agimos assim, por conta de nossas crenças limitantes.
Discriminação: ato de diferenciar, taxar , ou diminuir algo ou alguém por não ser “normal”. Lembrando que, normalidade é relativa pela sua visão de mundo e essa está associada a suas crenças limitantes.
Racismo: é uma forma de preconceito e discriminação motivada pela cor da pele ou origem étnica. Movida pelos que julgamos ser o adequado, lembrando que todos julgamos pela visão limitada de mundo que temos: crenças limitantes.
As origens modernas do preconceito racial remontam aos séculos XVI e XVII, período de expansão marítima e comercial, além da colonização do continente americano. Podemos perceber isso em marcadas na história, como a escravização dos africanos e o genocídio de povos indígenas. Em busca de justificar tais ações, os europeus começaram a formular teorias baseadas na suposição de que havia uma hierarquia das raças. Segundo essa tese, brancos estariam no topo dessa espécie de pirâmide, seguidos pelos asiáticos, indianos, indígenas e negros, também era comum a crença de que negros e índios não tinham alma. Com a chegada da abolição, as grandes potencias se viram obrigadas a aceitar essa nova “conduta”, porém a abolição não dava direitos trabalhistas aos escravos, muitos morreram de fome, sede, definharam nas ruas como verdadeiros animais jogados ao relento, suas vidas não valiam mais por conta da abolição, eles apenas desfrutaram de uma liberdade ilusória, utópica. Da noite para o dia, viram-se sem abrigo, sem comida, sem dinheiro, sem dignidade…
O racismo só mudou a roupagem. Obrigaram-se a voltar a ser “escravos” da burguesia. Recebiam moedas muitas vezes por um trabalho de dias. Empregadas chegavam antes dos patrões acordarem e só iriam embora ao ultimo raio de sol, sem almoço, sem direito de usar o banheiro. Alas eram construídas fora das casas para uso dos negros. Logo após, veio o nazismo e o movimento de Ku Klux Klan. E depois de tudo que já lemos sobre esses dois movimentos, não vou me deter em dar aula de historia. A pergunta é: você já entrou em algum apartamento onde havia “quartinho” para empregada ?
Nós estamos repetindo as mesmas coisas que nossos antepassados, com uma diferença, nossa hipocrisia social não nos permite explicitamente mostrar os monstros que somos, o ser humano é “vítima” de sua criação, a visão de mundo dos pais vai dar base as nossas crenças. Crenças essas que julgamos estarem corretas, muitas vezes crenças limitantes, não nos permitem enxergar fora da caixa, porque ferem nossos princípios, quem achamos que somos.
O racismo é estrutural e está cristalizado na cultura do povo. Racismo estrutural pode ser percebida na constatação de que poucas pessoas negras ou de origem indígena ocupam cargos de chefia em grandes empresas; de que, nos cursos das melhores universidades, a maioria esmagadora — quando não a totalidade — de estudantes é branca; ou quando há a utilização de expressões linguísticas e piadas racistas. A situação fica pior quando as ações ou constatações descritas são tratadas com normalidade. Ou quando uma pessoa branca paga R$ 20 mil e pode responder em liberdade por um homicídio. Será que se fosse a empregada negra, mesmo pagando esse valor, conseguiria? E será que ela seria acusada de qual homicídio?
Sua casa tem “quartinho” de empregada?
Sugestão de filme: Historias Cruzadas.