Conheça o melhor vinho tinto do país, feito com uvas de vinhedo de frades do RS
Rótulo com uva de origem francesa é elaborado por uma vinícola familiar
O vinho Vila Flores Cabernet Franc 2022 foi eleito pelo Guia Adega Brasil 2025 o melhor do país. Trata-se de um rótulo feito por uma jovem vinícola familiar gaúcha, a Arte Líquida. O Vila Flores Cabernet Franc é elaborado com uvas de um vinhedo da ordem capuchinhos, em Vila Flores:
— Já temos uma parceria com os frades há alguns anos. Elaboramos de uma forma ancestral, quero dizer, artesanalmente. Não há nenhum segredo, utilizamos pouquíssima tecnologia. Não utilizamos nada de insumos enológicos, somente um pouco de SO2 em momentos pontuais. Também fizemos um trabalho leve com barricas usadas. Penso que o sucesso de vinhos neste estilo é receber a uva em estado sanitário perfeito e muita técnica, cuidado e higiene dentro da cantina — revela o produtor Cristiano Ribeiro.
Ribeiro afirma que a pontuação encheu de orgulho a pequena vinícola familiar:
— Dizer que é o melhor tinto do Brasil talvez seja um pouco de exagero. Seria uma presunção de nossa parte. O que entendo é que recebemos uma premiação em uma categoria determinada no guia Adega. Claro que isso não tira nosso mérito de ter ficado à frente de outros 145 vinhos, alguns de vinícolas renomadas. Com certeza, para uma pequena vinícola familiar da Serra, isso nos enche de orgulho e nos mostra que estamos no caminho certo.
O guia Adega conta que a Arte Líquida é um projeto nascido em 2016, que busca vinhedos do Sul do Brasil e com eles produz “vinhos com pouca intervenção enológica, em volumes bastante reduzidos, mantendo o espírito artesanal”.
O produtor conta que a vinícola busca mais do que simplesmente vinificar vinhos: “É uma filosofia de vida”.
— Nossa família trabalha neste projeto por que amamos e nos envolvemos, não é simplesmente por uma questão financeira, por mais que seja muito importante também para a continuidade de qualquer negócio. Sentimos que a cada safra ficamos mais unidos como família e mais envolvidos com nossa marca.
Ribeiro conta que o nome Arte Líquida “nasceu pronto”:
— Para nós, não poderia ser outro. Vinho nada mais é que arte engarrafada. Arte dos viticultores responsáveis pelo solo e uvas, arte dos enólogos e vinhateiros dentro das vinícolas, dos profissionais que criam os rótulos, das empresas que distribuem, todo um conjunto para que o produto perfeito chegue às mesas dos consumidores.
Além do Cabernet Franc, a marca tem vinhos mais três vinhos pontuados no guia. O Pinot Noir Encruzilhada do Sul 2021 obteve 92 pontos. Ele é um tinto de mínima intervenção feito com uvas de Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste. Fica oito meses em barricas usadas de carvalho francês e mais 10 meses em garrafa, antes de sair ao mercado.
“Bem feito no estilo de frutas vermelhas mais maduras, seguidas de notas florais, de ervas e de especiarias doces, com sua pulsante acidez e seus taninos firmes ditando as regras e trazendo fluidez ao vinho e equilíbrio ao conjunto. Cativante nos aromas e nos sabores, tem final persistente, com toques terrosos, de cerejas e de groselhas, que convidam a uma segunda taça. Atenção com ele, mais que um bom vinho, é um muito bom Pinot, o que, por si só, já é uma acontecimento em se tratando de Brasil”, ressalta o guia.
Também obteve 92 pontos o Reissen Riesling Renano 2022 é produzido com uvas de Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, sem passagem por madeira. “Chama atenção pela acidez vibrante e pela textura tensa, que envolvem suas frutas brancas e cítricas frescas, conferindo verticalidade e fluidez ao vinho. Austero e preciso, tem final longo, com toques salinos, de limão siciliano, de ervas frescas e de umami. Está ótimo agora e tem tudo para se manter assim na próxima década. Aqui, menos é muito mais. Grata surpresa!”, diz o guia.
Já o Spätburgunder Pinot Noir 2022 conseguiu 91 pontos. Também é um vinho com mínima intervenção elaborado com uvas Spätburgunder, um clone de cachos mais soltos, criado na Universidade de Geisenheim, cultivadas em Nova Petrópolis, Serra Gaúcha. Não passou por madeira, mas foi mantido durante 8 meses em tanques de polipropileno, antes de ser engarrafado. Segundo o guia Adega, é um tinto “gostoso de beber e de boa tipicidade, tem acidez refrescante e taninos firmes e grãos finos, que envolvem todas suas frutas vermelhas maduras, trazendo equilíbrio ao conjunto. Tem final suculento e persistente, com toques terrosos, de ervas, de groselhas e de cerejas negras. Por ser fácil de beber, aparenta ser menos complexo do que realmente é”.
Ribeiro diz que as uvas Cabernet Franc, Pinot Noir e Riesling Renano são as que “mais representam” a Arte Líquida:
— Para nós, neste momento, são as variedades que mais amamos e mais nos representam. Claro que existem muitas outras que poderíamos e, quem sabe, iremos trabalhar no futuro. Na verdade, já temos alguns vinhos com outras variedades, mas essas três realmente mostraram uma capacidade de adaptação muito interessante em nossas regiões ao Sul.
Fonte: O Globo