Na colina “Montanhesa”: o Cemitério Público Municipal

Texto escrito pela colunista Clarita Pagnoncelli Gabrieli

A origem dos cemitérios remonta ao período da Pré-História, quando o homem passou a ter moradia fixa e criou espaços que ultrapassavam a mera questão do sepultamento de seus semelhantes, agregando ao ritual, as suas crenças, costumes e práticas culturais.

Na Colônia de Alfredo Chaves, a Comissão de Terras, em 1884, demarcou a Sede, procedeu a abertura de algumas ruas, nivelou a praça e, dentre tantas tarefas, possivelmente, tenha escolhido a colina, no tal “Mato do Januário”, próximo ao Barracão dos Imigrantes, a fim de enterrar os mortos. Neste local, um pequeno “campo santo” acolheu os que faleciam de morte natural, de males incuráveis ou transmissíveis; alguns eram pacientes que vinham a óbito no Lazareto (precário hospital junto ao Barracão); muitos eram transeuntes/indigentes que, por motivo ou outro, morriam, e ali eram enterrados.

Na colina, sempre que necessário, iam-se abrindo novas covas na terra, já desprovida da mata virgem. Com o tempo, o cemitério podia ser visualizado, de longe, pelas  cruzes de madeira, pedra ou ferro, que traziam escritos os nomes dos falecidos, marcando o lugar onde os entes queridos  tinham sido sepultados. Não havia muros, por isso, era comum encontrar bois, vacas, cabritas, pastando entre as tumbas, como registrou o Bispo de Rio Grande, Dom Cláudio José, em sua visita à Colônia de Alfredo Chaves, em 06 de janeiro de 1905. Ele ainda escreveu que o cemitério estava em poder das autoridades civis e recomendava ao cura Frei Fidélis De La Motte Servolex, que empregasse os meios ao seu alcance, a fim de chamar novamente o lugar sagrado à direção eclesiástica.

Ampliação

No relatório apresentado ao Conselho Municipal pelo intendente Coronel Achylles Taurino de Rezende, em 1910, registrou-se a necessidade de grandes reparos no cemitério da Sede, a limpeza era feita pelos zeladores das ruas, as cercas estavam em estado precário, há menção da existência de uma Capelinha que precisava de reformas e a aquisição de terreno para ampliação, como vemos no registro abaixo:

Durante a primeira administração do prefeito Saul Irineu Farina (1930-1938) deu-se a aquisição de um terreno de 4.800m², que era de propriedade da  Irmã Benvenuta Pasquali, ampliando o já existente cemitério do município, na “Montanhesa”, segundo Geraldo Farina, no livro História de Veranópolis, 1992.

Na administração do prefeito Rogério Galeazzi, com recursos da municipalidade, foi construída a atual Capelinha, no interior do Cemitério Público, sendo inaugurada no dia 02 de novembro de 1939(foto abaixo).

Reformas e melhorias ao longo dos anos

Ao longo do tempo, a necrópole passou por algumas ampliações, reformas e melhorias, como foi registrado no Relatório Anual, de 1958, na segunda administração de Saul Irineu Farina:

(Fonte: Arquivo Público Municipal –                              Entrada Principal – Fotos de 1958)

Sem mais espaços disponíveis

Atualmente, o Cemitério Municipal de Veranópolis encontra-se superlotado, com falta de espaços para ampliação e construção de novos jazigos e/ou lóculos(gavetas). A administração municipal gerencia a demanda e é responsável pela  limpeza e ajardinamento, mantendo o “campo santo”, onde cada jazigo ou simples sepultura, tem muita história pra contar.

Exemplo disso, é o túmulo histórico onde  repousam os restos mortais do abnegado Dr. GIULIO DEL PRETE.

Nos anais da medicina do RS, encontramos dados sobre GIULIO DEL PRETE: natural de Lucca, na Itália, região da Toscana, nasceu em 18 de dezembro de 1897. Formou-se em Medicina pela Real Universidade de Pisa. Em 1916, em Modena, inscreveu-se como voluntário no curso para oficiais, seguindo para o front de guerra. Em 1918, foi enviado para combate na Macedônia e foi condecorado com medalha de mérito de guerra. Foi o primeiro médico italiano a chegar a Alfredo Chaves, atual Veranópolis (RS), em 1921, após ter participado como cirurgião na Primeira Guerra Mundial. Clinicou também em Nova Prata (RS) e Lagoa Vermelha (RS). Em 10 de novembro de 1923, revalidou seu diploma na Faculdade de Medicina de Porto Alegre (RS).

A intenção do Dr. Giulio era trabalhar em Alfredo Chaves, por isso, manteve contato com o Sr. Guglielmo Giugno, na época presidente da Associação dos Imigrantes Italianos e, juntos, iniciaram as tratativas para adquirir um local. O Barracão dos Imigrantes obteve a preferência dos dois italianos, por ter construção sólida e espaçosa e, ali, funcionou a primeira “Casa de Saúde Dr. Giulio Del Prete”.

 

Alguns registros de Del Prete

Em 1937, com novas instalações na esquina da Av. Osvaldo Aranha com a Rua Flores da Cunha, o Dr. Del Prete possuía uma clínica, onde atendia seus pacientes, realizava cirurgias e manipulava fórmulas farmacológicas. Além de dedicado médico, construiu sólidas amizades e parcerias em prol da saúde veranense.

Seu trabalho gerou um sentimento de gratidão da população da então Alfredo Chaves, que muito sentiu sua prematura partida.

O livro tombo paroquial registra o passamento do Dr. Giulio Del Prete em 23 de junho de 1930, aos 33 anos de idade.

PARA REFLETIR

 

DE PASSAGEM

Um viajante chegou a uma humilde cabana, onde se dirigiu pedindo água e pousada. Quando chegou, foi recebido por um monge que lhe ofereceu acolhimento. Ao reparar na simplicidade da casa e, sobretudo, na ausência de mobília, curioso, indagou:

-Onde estão os teus móveis?

-Onde estão os teus? – devolveu o monge.

-Estou aqui só de passagem – respondeu o andarilho.

-Eu também…

 

 

 

 

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