Que água consumimos?
Um dos mais importantes recursos do meio ambiente é a água. O Brasil é um país privilegiado em recursos hídricos, representando cerca de 12% do total mundial. Porém, no passado, assim como outros a água era considerada um recurso inesgotável. Hoje, já se sabe que devido a diversos fatores, como o desperdício, a poluição, o crescimento populacional, as mudanças climáticas, a urbanização e a industrialização, os recursos hídricos estão ficando cada vez mais escassos, gerando conflitos em diversas regiões do mundo. A questão da água é, portanto, uma das mais preocupantes discussões do século.
Em Veranópolis, a água é captada no Rio Retiro e tratada pela Corsan, que a torna potável, ou seja, adepta para consumo. Segundo Marcel Comachio e Luciano Rigon, agentes de tratamento de água, a qualidade e leveza da água é garantida no município. Para eles, o saneamento é quase como o serviço de um médico, pois a prevenção contra muitas doenças vem do tratamento adequado da água. De acordo com estudos, cada real investido no tratamento de água gera uma economia de quatro em saúde. Porém, para que a qualidade da água exista, não pode haver poluição excessiva, pois, se houver, será preciso utilizar mais componentes químicos para tratá-la, o que alteraria suas características. Em grandes centros urbanos, por exemplo, nota-se enorme diferença.
Em relação à poluição, o que os agentes mais enfrentam é a carga de matéria orgânica, algo natural em períodos de chuva. Além disso, Marcel coloca: “com a chuva, a erosão transporta bastante nutrientes do que é usado na agricultura, inclusive os defensivos agrícolas e adubos. Os traços de resíduos identificados através do monitoramento estão dentro dos parâmetros aceitáveis, sem causar nenhum prejuízo para a saúde humana”. No ramo industrial, apenas duas empresas do setor metalmecânico, localizadas antes da captação, realizam despejos. Às vezes, é preciso realizar alguma alteração no tratamento em função disso, porém, na água tratada não fica nenhum resíduo, ressalta Comachio.
Um novo distrito industrial será construído em Veranópolis, numa área de terras de aproximadamente nove hectares, doada pelo Estado, localizada em Sapopema, nas margens da BR 470, próximo à divisa com Vila Flores. Ainda é algo futuro, mas, segundo Marcel, é preciso estar atento ao descarte de esgoto e resíduos dessas futuras empresas que ali se instalarem, pois a área pertence à bacia de captação de água. Por isso, destaca-se que em ações de desenvolvimento econômico como essa é sempre muito importante manter o olhar para a causa ambiental.
Você sabia? Em Veranópolis são consumidos em torno de 5 mil metros cúbicos de água por dia.
Ontem,hoje e amanhã
Durante as três décadas que Marcel trabalha nesta área, ele afirma que, em relação à poluição da água, houve oscilações ao longo do tempo. “Até a década de 90, era bem mais poluído do que hoje, pois a agricultura era mais intensiva naquela época. Tínhamos eventos de turbidez em cada enxurrada; e, como o solo estava nu por conta das plantações, a erosão levava muito adubo e bastante terra dissolvida. Então, atingíamos picos de até 2800mg de turbidez na água. Hoje, o máximo, do último ano, foi entre 800 a 1000mg”, frisa.
Questões que prejudicam o ciclo da água levantadas por Marcel são, por exemplo: a derrubada de matas ciliares, exploração excessiva dos recursos e a poluição do ser humano. Algo pontual na região é ligado às olarias, que para conseguirem sua matéria prima acabam desmanchando todos os banhados, que são reguladores de vasão do rio. Ele explica: “Eles servem como uma esponja, acumulam água na época que chove bastante e largam ela aos poucos para o rio. Hoje, se passarmos na região em torno do manancial, que é a área de captação daqui a Nova Prata, vê-se muitos açudes. Eles impermeabilizam o solo, pois estão sob uma rocha ou uma terra sem infiltração; aquela água fica represada ali, ou seja, ela não vai mais para o rio, ela apenas evapora nas secas ou transborda em épocas de muita chuva”. Com isso, o ciclo da natureza é alterado, a intervenção do homem ocasiona essas mudanças.
Marcel salienta que é preciso ter responsabilidade, os recursos podem ser utilizados, mas é preciso compensar evitando desiquilíbrios no sistema hídrico. “Se faz um banhado e retira a argila, reponha a terra, mantendo a geografia do solo. Assim, daqui há 20 anos, ele será novamente um banhado, com matéria prima para fazer tijolo. Hoje, estão esgotados, apenas represando água e mantendo o sistema hídrico comprometido”, aponta.
A poluição do ser humano que ocasiona o excesso de matéria orgânica é o que ainda “mata” o rio. “Quando são lançados no rio dejetos humanos e animais, inicia um ciclo de depuração: na área onde essa matéria for processada para se transformar em nutrientes, todo o oxigênio da água será consumido, e então, essa área será morta. Quanto mais poluição, maior será a área morta, e assim, somem os peixes, some a vida da água”, explica.
Outra questão importante é em relação à pecuária, criação intensiva de animais: “quem possui grandes chiqueiros ou grande número de cabeças de gado precisa respeitar as normas não largando os dejetos e resíduos nos rios, pois isso pode comprometer muito a qualidade da água, tornando-a imprópria para consumo”, acrescenta.
Pensando em futuro, se o ser humano preservar, terá uma água de excelente qualidade: “A nossa é uma das melhores em qualidade de matéria prima do Estado inteiro”, reforça, com orgulho. O que pode comprometer, além da falta de cuidado, é o aumento da população, que é o que mais concentra poluição.
Os agentes de tratamento de água preocupam-se muito com a preservação das fontes e com os níveis de poluição, porém, a única coisa que podem fazer quando encontram alguma alteração na água é denunciar. Outros órgãos é que devem realizar a vigilância e monitoramento do manancial: “Água para mim não é uma mercadoria, é um bem público que deve ser monitorado e cuidado; controlado pela vigilância e poder público”, conclui.
Saiba +
Observando os dados abaixo, percebe-se que é preciso utilizar a água de forma prudente e racional, evitando o desperdício e combatendo a poluição, pois:
• Um sexto da população mundial – mais de um bilhão de pessoas – não têm acesso à água potável;
• 40% dos habitantes do planeta (2.9 bilhões – a estimativa da população em 2013 foi de 7.3 bilhões) não têm acesso a serviços de saneamento básico;
• Cerca de 6 mil crianças morrem diariamente devido a doenças ligadas à água insalubre e a saneamento e higiene deficientes;
• Segundo a ONU, até 2025, se os atuais padrões de consumo se mantiverem, duas em cada três pessoas no mundo vão sofrer escassez moderada ou grave de água.