Filhos órfãos de pais vivos

         Existem muitas situações que podem levar alguém a sair da vida de outra pessoa. E não é diferente na relação de pais com filhos. Mas como ficam os filhos de pais emocionalmente ausentes?

        Não basta só a presença física: precisa mais. Pais ausentes deixam traços marcantes nos filhos. O fato de crescer ao lado de uma figura materna ou paterna, que apesar de estar, é incapaz de dar amor e valor, deixa um vazio no coração de uma criança que está construindo seu mundo, abrindo suas fronteiras.

A maior doença hoje em dia não é a lepra ou a tuberculose, mas sim a sensação de não ser amado, não cuidado e abandonado por todos”. (Teresa de Calcutá)

     Os jovens que crescem com essa ausência dos pais são mais propensos a desenvolver problemas de comportamento. Esses problemas funcionam como uma proteção, um escudo que as crianças usam para proteger seus sentimentos mais profundos, de abandono, medo e insegurança. Com a desconfiança, há o medo de projetar uma grande carga afetiva em outra pessoa. O medo de ser ignorado, deixado de lado.

Nossas emoções existem para serem sentidas, mas não para dominar nossas vidas, nem cegar nossa visão, nem roubar o nosso futuro, nem apagar a nossa energia, porque, ao fazer isso, elas se tornarão tóxicas”. (Bernardo Stamateas)

      Este modelo de criação tende a estabelece relações tóxicas com outras pessoas. Na necessidade de encontrar afeto e carinho, a pessoa pode se integrar a um núcleo social não tão bom, tóxico, do qual tem muita dificuldade para sair.

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6 características dos pais ausentes

      Até pouco tempo atrás, o papel do homem na família era trabalhar para sustentar economicamente a mulher e os filhos. Como tinha o poder financeiro, ele era a autoridade máxima da casa, quem determinava, dava ordens, escolhia, tinha os privilégios, não se envolvia com a criação dos filhos, ou seja, dava a última palavra.

     Entretanto, com a mulher participando cada vez mais do mercado de trabalho, a configuração familiar sofreu uma mudança profunda. O pai e a mãe passaram a compartilhar as responsabilidades com os filhos. E essa mudança trouxe muitos benefícios para os filhos.

     Muitos estudos mostram que crianças que têm os pais próximos:

– Têm autoestima mais elevada;

– Têm menos probabilidade de abandonar os estudos;

– Têm menos envolvimentos com drogas;

– São mais seguras emocionalmente;

– São mais empáticas;

– Desenvolvem relações mais saudáveis;

– Vão melhor na escola;

      Além disso, as pesquisas mostram que as meninas correm menos riscos de gravidez na adolescência e de se envolverem em relacionamentos violentos e abusivos.

     Pais que participam da educação ativamente, são solidários e afetuosos, podem contribuírem bastante para o desenvolvimento linguístico, social, emocional e cognitivo da criança. Por outro lado, pais ausentes causam feridas muito difíceis de serem curadas.

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Os pais biológicos nem sempre são protetores

      Os pais são como uma casa que temos de herança. Nem sempre nos agrada, você não a escolheu e nem sempre ela está habitável. Às vezes precisa de uma reforma, ou quem sabe a saída dela seja a melhor escolha. Há outras situações em que a casa é ótima para ser habitada, nos sentimos seguros, amados e confiantes em estar nela. É o que chamamos de ambiente seguro.

   Crianças que não tiveram suas necessidades emocionais atendidas podem sentir-se abandonadas, desamparadas e desprezadas. O descumprimento de cuidado durante o desenvolvimento pode acarretar marcas e prejuízos. Lembre-se que presença e acessibilidade são fatores importantes! Tem momentos que estamos presentes fisicamente, mas não disponíveis verdadeiramente. É necessário termos momentos de escuta e de um olhar de cuidado.

      Os pais/cuidadores precisam respeitar os direitos alheios, dando limites, orientando e contribuindo para o manejo das emoções.

       Quem já sentiu-se negligenciado ou abandonado, lembre-se de que você não fez nada de errado! O adulto da situação deveria ter sido cuidadoso e responsável contigo.

     Para a criança/ adolescente: espero que você tenha outros vínculos de cuidado e amor, e perceba que há pessoas dispostas a construir relações saudáveis!

Com afeto, psicóloga Kétlyn Postay.

Como ajudar a criança a lidar com um pai (ou mãe) ausente?

      Não são raros esses casos, infelizmente. Isso pode acontecer em muitas situações, como pais muito ocupados e os filhos são criados por avós. Ou mesmo numa separação conturbada, quando um dos dois não continua tendo contato frequente com o filho.

     A criança fica muito triste, não raro se sentindo culpada pelo abandono do adulto responsável. O que pode levar a casos muito sérios. Por isso é muito importante conversar com ela sobre o assunto, pois questionamentos começam a surgir.

      Cada caso é um caso. Não é porque uma criança cresceu sem uma figura parental que ela terá necessariamente um problema de comportamento. Mas as chances sim são maiores e cada família lida de um jeito.

Responda com sinceridade: os pais precisam ter diálogo aberto com os filhos sobre o que está acontecendo. É melhor responder somente o que a criança está querendo saber, pois para muitas informações ela ainda não está preparada.

Inclua a criança na conversa: é bom colocar a criança no auxílio da solução do problema. Por exemplo, quando a criança perguntar por qual motivo o pai ou mão não vem visitá-lo, é possível responder: “Eu não sei, mas podemos perguntar ou descobrir juntos o motivo”. Vale sempre lembrar a criança que a culpa não é dela.

Respeite os sentimentos: “Não precisa chorar por isso”, “não fique com raiva” ou “esquece isso” não são falas que devemos ter com os pequenos. Retire essas frases de sua rotina. O choro, por exemplo, é uma das formas que a criança encontra para expressar seus sentimentos e o adulto responsável deve buscar reconhecer essas emoções. Não abafe sentimentos!

Não a vitimize: muitos adultos acabam vitimizando a criança, como se ela estivesse fadada a sofrer para sempre por conta da situação. Assim, além de generalizar, pode criar um filho superprotegido, tendo dificuldades possíveis com qualquer frustração.

Mostre características positivas: é importante salientar os pontos positivos, tanto da criança, como da vida. Fale sempre de suas qualidades, habilidades, esforços, etc, para mostrar o quão bom é o filho. Mostre que há muitas outras pessoas que o valorizam e o querem bem. A criança vê que a família vai muito além da configuração habitual.

O acompanhamento psicológico é necessário?

      Depende. Lembrando: cada caso é um caso. Mas não se deve ignorar essa opção, muito útil e necessária na maioria das vezes.

     O mais importante é como o adulto responsável lida com o fato. E em muitas vezes é aconselhável que esse adulto faça um acompanhamento psicológico.

     Por mais difícil que seja a situação, é preciso buscar sempre o melhor para a criança. Podem haver mágoas e inúmeros assuntos não resolvidos, mas é preciso entender que a criança tem o direito de ter o contato e que vai ser benéfico (desde que seja saudável).

    O contato com a criança deve existir. E uma das melhores coisas a se fazer, é estar presente em muitos momentos. Ajudar na cozinha, pôr a mesa, organizar as coisas na casa, fazer uma receita juntos, sair para uma caminhada, parquinho, assistir a um filme, ir a um lugar de jogos…

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Pais!

Não percam as conexões com seus filhos. Nossas crianças precisam de vocês.

Repórteres:

Karla Valandro

Thamires Gaieski

Emilly da Silva

Emanuelly Mattos

Maria Ditadi

Maria Binda

Arthur Malinski

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